O transporte rodoviário de carga atravessou momentos difíceis durante a crise. Somente no último ano, de acordo com o recadastramento de empresas de logística rodoviária da Agência Nacional de Transportes Terrestre (ANTT), 30 mil transportadoras fecharam as portas. “Além disso, 47% das empresas diminuíram de tamanho no ano passado”, observa Tayguara Helou, diretor do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região.
Embora altos, os números não surpreendem: responsável por 62% da carga transportada no Brasil, o setor é sensível ao vaivém da economia. “Se o PIB cai, o transporte rodoviário de carga cai duas ou três vezes mais”, diz Tayguara.Foi esse cenário que obrigou as empresas do segmento a adotarem diferentes estratégias para se tornarem mais eficientes. ”
“Procuramos investir em tecnologia, integrando nossos sistemas com o ERP dos clientes, e utilizando ferramentas que melhoram a produtividade, como softwares de gestão de frotas e de roteirização, para os caminhões rodarem mais carregados e por menos quilômetros”, explica Markenson Marques, presidente da transportadora Cargolift.
Segundo Marques, a empresa preferiu recolher seu capital de giro a fechar contratos com frete abaixo do custo. “Muitas empresas fizeram isso no auge da crise e empobreceram”, diz. “Nossa estratégia é operar com capital de giro próprio para evitar esse tipo de situação.” O resultado foi crescimento de 22% no faturamento de 2017 ante 2016. Desde 2014 estamos prospectando clientes e encerrando contratos menos rentáveis.”
Outra alternativa para superar a crise foi a atuação via cooperativas de transporte de carga. Segundo Abel Paré, coordenador nacional do conselho consultivo do ramo transporte da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), as 305 cooperativas do segmento fecharam 2017 com aumento de 14,2% no faturamento e de 5% de volume de carga.
Paré explica que as cooperativas de transporte de cargas estão inseridas em um modelo de negócio no qual conseguem compartilhar estruturas para suas operações, mitigando riscos e custos. “Por isso, passaram pelo período de instabilidade sem ter de fazer muitos ajustes nas operações”, afirma.
Fabrício Orrigo, diretor comercial da Penske Logistics, por sua vez, conta que a empresa teve de ajustar sua estrutura de custos para se adequar à nova realidade do mercado. “Cortamos custo, negociamos com fornecedores, melhoramos sistema e processos”, explica. Segundo ele, os ganhos foram repassados para os clientes, para reforçar uma posição de parceria.
Orrigo explica que a Penske continuará apostando na redução de custos e em soluções tecnológicas, como o Business Intelligence. Além disso, a empresa vai investir R$ 12 milhões em novos sistemas de TI. “Queremos ser a primeira empresa da América Latina a ter o sistema de gerenciamento de transporte em nuvem”, diz. “Assim, será possível acelerar a tomada de decisões para consolidação de cargas, por exemplo, o que reduz o custo dos fretes.”
Isso indica, segundo Orrigo, que é o momento de se considerar investimentos de expansão, para que o setor suporte a elevação da demanda. Marques observa que isso já está acontecendo. “O mercado de seminovos já está vendendo caminhões pelo preço da tabela Fipe, sem descontos, porque não há veículos novos para entrega imediata”, diz.
Tayguara também está otimista. Para ele, o cenário de inflação controlada e crescimento do PIB favorece o transporte rodoviário de carga. “Tudo indica que a tempestade efetivamente está passando”, diz. “E, se a crise foi ruim, pelo menos serviu para sacudir as empresas e fazer com que elas buscassem mais eficiência em seus processos”, afirma.
Não deixe de conferir nossa entrevista também no portal do Valor Econômico no link abaixo:
http://www.valor.com.br/brasil/5351117/transporte-de-cargas-tem-recuperacao